SENADOR POMPEU - VENCEDORA DO CONCURSO DE REDAÇÃO - 112 ANOS DE HISTÓRIA


ESPERO QUE OS LEITORES DE SENADOR POMPEU CONHEÇAM MELHOR SUA TERRA, PARA QUEM MORA FORA QUE SINTA SAUDADES E PARA QUEM É DE OUTRA TERRA QUE CONHEÇA SENADOR POMPEU.



Movida pela paixão de um povo a sua querida terra, que tão receptivamente nos acolhe como uma mãe, com efusivas congratulações comemoramos este ano o centésimo décimo segundo ano de fundação desta cidade denominada Senador Pompeu.

Situada bem no seio do Sertão Central, que sob o sol ardente do Ceará foi erguida através do árduo trabalho de seus filhos que sempre sonharam com o progresso que foi escrito desde outrora em sua história, cuja origem ainda remota ao século dezoito ou, mais precisamente no dia vinte e sete de março de mil setecentos e vinte e três a partir das doações de terras concedidas pelo Governo Português, na pessoa do Capitão Mor Manoel Francês, aos desbravadores Tomé Callado e Nicolau de Souza, para ocupação do território, evitando dessa forma, uma possível ocupação dessas terras por outras nações.

De acordo com a historiografia local o nosso Município teria surgido das duas sesmarias de três léguas destinadas a cada um dos desbravadores as margens do Rio Codiá, de onde formar-se-ía um pequeno arraial denominado Humaitá, de origem Tupy-Guarani que significa em outras palavras: aquele que muito fala.

Neste mesmo período, aconteceram outras ocupações de terras sendo que estas eram feitas de forma espontânea, uma vez que muitos comerciantes e tropeiros dos mais variados lugares ao fazerem suas travessias pelos Rios Patú e Codiá acabaram por aqui ficando. Com o desenvolvimento das atividades agropastoris, evoluiu igualmente a estrutura urbana, pois um dos fatores que assegurou a formação da vila foi a fertilidade das terras de Humaitá, propícias ao cultivo das mais variadas culturas. Por esta razão a população senadorense herdou poucos traços dos seus primeiros habitantes indígenas, haja vista que a maior parte de sua gente foi constituída de pessoas vindas de outros lugares.

Entretanto, a vila de Humaitá que contava com cerca de duzentas casas que viviam sob tutela administrativa do Município de Quixeramobim só foi constituído Município aos três de setembro de 1896, no Governo do Comandante Antônio Pinto Nogueira Acioly, sogro do Senador da República Tomás Pompeu de Souza Brasil, o idealizador e patrono da estrada de ferro no Ceará, o qual tornou-se ícone do desenvolvimento Regional e orgulho para os nossos munícipes que o agraciaram com o nome de nossa cidade. Haja vista, que o comércio do algodão e a ferrovia estimularam o aumento populacional, já que as pessoas se sentiam atraídas pelo grande movimento da praça comercial.

A chegada da estrada de ferro, no dia dois de julho de mil e novecentos, também estabeleceu a ligação do Sertão Central como a capital, agilizou a forma de locomoção da população que até então era feita a tração animal, causando um grande fluxo de visitantes, passageiros. Haja vista, que o comércio do algodão e a ferrovia estimularam o aumento populacional, já que as pessoas se sentiam atraídas pelo grande movimento da praça comercial.



E a produção algodoeira possibilitou uma série de mudanças, entre elas se destaca o perfil da cidade que a partir daí passou a se modernizar e a contar com agências bancárias, (Banco do Brasil e Banco Econômico), clubes sociais, hotéis, estabelecimentos comerciais. Dessas pequenas edificações ao redor dos trilhos, num pequeno intervalo de tempo se transformaram em ruas, tornando o nosso Município um ponto de referência para toda a Região do Sertão Central.

Além disso, muitas pessoas tinham a estação ferroviária como um espaço dinâmico que fazia parte da sua vida, pois, diariamente uma parte da população entrava em sintonia criando uma relação de sociabilidade e possibilitando assim, um intercâmbio cultural, já que as pessoas que queriam viajar nos trens para a Capital do Estado ou para a Região do Cariri vinham embarcar ou receber mercadorias em nosso Município.

Dessa forma, as cenas do cotidiano do nosso povo giravam em torno da estação que além de servir de encontro, partida e lazer da população numa época em que a televisão não tinha ocupado o espaço que tem hoje. Servia, sobretudo, ainda como meio de sobrevivência, pois era ali que muitos vendedores ambulantes, num verdadeiro espetáculo de malabarismo e gritos vendiam, paro o sustento de sua família, café, bolo, água fresca na quartinha, e outros atrativos aos passageiros.

Portanto, a ferrovia ao mesmo tempo em que intensificava o comércio local trazia o progresso para a nossa cidade, já que fora nessa época em que foi instalado, também o telégrafo na Estação para que as pessoas ficassem em sintonia com os acontecimentos e as novidades que iam chegando ao Município.

Um outro elemento fundamental que desencadeou esse apogeu econômico, nas décadas de quarenta a sessenta em parceria com a ferrovia, foi o cultivo do algodão, que teve seu desenvolvimento como seqüela da Revolução Industrial e do incremento dessa cultura na década de mil novecentos e sessenta, quando os Estados Unidos principal fornecedor de algodão estavam envolvidos na Guerra de Secessão e o Ceará tornou-se nesse cenário, o principal fornecedor em grande escala no mercado europeu, exportando a produção que vinha dos pólos produtores do interior do Estado.

Então, por sua condição de núcleo produtor e aglutinador da produção rural que seria transportado pelos trens, Senador Pompeu, alcançou uma posição de destaque das demais regiões, sobretudo pela produção algodoeira, quando houve a instalação de um pólo industrial constituído de cinco indústrias de beneficiamento de algodão: SICAL - Sociedade Industrial Comercial de Algodão, SANBRA – Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro, Exportadora Jucás, INDEX e Algodoeira Borges. As quais realizavam também outras atividades ligadas à fabricação de óleo vegetal, sabão, beneficiamento de milho e arroz. O que tornava a cidade atrativa, um centro convidativo para visitantes que aqui chegavam à procura de emprego ou de investimento no Comércio.

Com o binômio algodão e ferrovia, houve um verdadeiro intercâmbio comercial nunca antes percebido em nosso município, o qual foi adotando aspectos modernos e a sociedade foi assim assumindo um novo perfil com os mesmos padrões de comportamento das elites fortalezenses. E para atender os anseios desta, foi criado a AABB Comunidades – Associação Atlética do Banco do Brasil, para o lazer dos funcionários do Banco do Brasil e para promover festas, programas de auditório, carnavais e bailes de reveillon, os quais ganharam destaque nas regiões circunvizinhas e na capital. No entanto, a atração maior era o concurso da Rainha do algodão, uma festa social, de cunho comercial, que contava com o apadrinhamento de personalidades ligadas ao setor algodoeiro. Já as camadas de menor poder aquisitivo eram excluídas do acesso aos clubes restando-lhes como opção, as festas nos salões de residências simples, onde dançavam ao som dos sanfoneiros da terra, como o famoso Chico Mineiro.

A principal diversão da cidade, entre outras ficava, entretanto, por conta das amplificadoras, que contagiavam os jovens as noites, que se reuniam na praça para ouvir as mensagens e as cantigas, etc. O cinema também foi outra atração que deixou sua marca na cidade, pois, o Cine Humaitá tinha antes, o mesmo alcance da televisão nos dias atuais, funcionava em três sessões diárias, sendo que à noite, o horário prolongava-se até ás vinte e duas horas. As novidades nas telas atraíam tanto as pessoas que muitas vinham das outras regiões e pernoitavam na cidade, e os mais fiéis espectadores do cine Humaitá chegavam até a se deslocar da zona rural por meio de montarias em lombo de animais.

Com um olhar voltado para o futuro passou-se a investir em educação, os centros educacionais Ginásio Nossa Senhora das Dores e o Ginásio Cristo Redentor desempenhavam a função de educar e encaminhar para o mercado de trabalho profissionais de qualidade, funcionando em regime de externato e internato. Os cursos eram tão bem conceituados que elevaram a cidade à posição de Celeiro Cultural da Região, vindo alunos até de outros Estados como o Piauí e Maranhão.

Um outro símbolo marcante da história do nosso povo e que se perpetua na memória dos munícipes de Senador Pompeu é a Barragem do Patu, que apesar de não ter sido tombada ainda como patrimônio natural e histórico, congrega todo um conjunto arquitetônico composto por casarões construídos em mil novecentos e dezenove para abrigar os engenheiros da empresa inglesa NORTON GRIFFITHS AND COMPANY LTDA, que seria responsável pela construção da barragem. Foram construídos seis casarões. Entre eles um da inspetoria que é localizado em ponto estratégico em cima de uma colina, o que possibilitava ao inspetor geral de toda a obra a visualidade de todos os casarões. Contudo, é o que atualmente encontra-se em pior situação de degradação, pois quase todo o teto caiu, as portas acabaram-se ou foram saqueadas, mas mesmo nesse triste estado de degradação podemos perceber a suntuosidade e o charme da perfeita mistura da arquitetura inglesa com a influência da casa de fazenda nordestina.

Além desse, foi construído também para os engenheiros dois casarões, localizados logo abaixo do casarão da inspetoria e três casarões para os funcionários que se localizam bem a beira da estrada que liga a sede do Município a Barragem. A casa de pólvora também foi outra construção de pedra, coberta com um frágil telhado de cerâmica, com um compartimento para guardar a pólvora que seria utilizada na obra. Esta casa ficou logo a margem da estrada que liga o açude e a sede do município, foi construído além dessas, a casa da luz para gerar energia para a construção da barragem, um hospital para cuidar dos enfermos da vila, uma ferrovia e um armazém para guardar os alimentos.

Mas, por ironia, aquela Barragem que seria para o bem da população tornou-se mais um rio vivo de pessoas que perderam suas vidas naquele massacre desumano contra a fome. Conta-se que em mil novecentos e trinta e dois, ocorreu no Ceará uma grande estiagem, as pessoas migravam para a capital para pedir socorro ao governo do Estado que temia grandes saques, porque colocaria em risco a cidade de Fortaleza. Então, como medida preventiva o Governo criou “os campos de concentração” de flagelados no interior do Estado. Foram muitos, mas o de nossa cidade, teve uma particularidade que se tornando ímpar na história dos campos, foi localizado exatamente na vila dos operários ingleses.

Segundo depoimentos de alguns sobreviventes desse massacre, as pessoas eram atraídas para estes campos com a promessa de que lá teriam alimento e trabalho, mas depois que estas entravam ficavam aprisionadas e se tenteasse fugir eram aprisionadas e perseguidas e até mortos. Estes flagelados recebiam feijão preto, que nem se que cozinhava, farinha velha e azeda e restos de animais que não se aproveitam mais na cidade. Assim, num aglomerado de pessoas famintas, não demorou a surgir uma peste que os estudiosos suspeitam ter sido cólera devido à falta de saneamento básico, água suja e pouca, e alimentos insuficientes e de má qualidade.

Devido a essa peste morriam muitas pessoas por dia, e na falta de covas suficientes e de humanidade dos organizadores do campo, foi adotado o sistema de enterramento em valas comuns, as quais eram cavadas todas as manhãs pelos próprios flagelados para receber todos os dias os corpos inertes e durante todo o dia. Nesse local após ter sido desativado o campo foi fixado um cruzeiro, para onde, ainda, hoje as pessoas fazem caminhadas, alimentando a lenda de que se colocar uma pedra junto a cruz e fizer um pedido será alcançado.

Próximo ao cruzeiro foi construído o Cemitério da Barragem, para onde é conduzida a romaria, ou como é conhecida popularmente a caminhada das almas,realizada,tradicionalmente,no segundo domingo de novembro, surgida em mil novecentos e oitenta e dois, numa idéia do Padre Albino Donati, na tentativa de resgatar o momento histórico vivido por milhares de retirantes na seca de mil novecentos e trinta e dois.

Apesar dessa, triste história de sofrimento e confinamento na barragem, há esperança que esta romaria ao Santuário da seca, que se perpetua por meio da religião e expõem fortes elementos culturais, seja incluída como acervo do patrimônio histórico imaterial dos cearenses, pelas autoridades competentes.

Mesmo tendo passado aquele período de glória de nossa economia, hoje, nossa cidade é destaque Regional, ostentando o título de capital cultural do Ceará, devido, sobretudo, a criatividade do nosso povo que expressa sua alegria de viver de diversas formas.

Tradicionalmente contamos com o brilho das nossas quadrilhas (Flor do Sertão e Coração Nordestino, que se tornaram destaques no Estado). Entre as festas populares temos: a Festa dos Caretas no Distrito de Engenheiro José Lopes, o Codiá de tradições, a festa do Reisado no Distrito de São Joaquim, as festividades carnavalescas, juninas, natalinas e da Padroeira Nossa Senhora das Dores. Contamos ainda com o talento dos nossos artistas e escritores da terra.

Enfim, ao comemorarmos a velhice tão menina dos cento e doze anos de existência da nossa terra mãe gentil, comparável ao do poeta Gonçalves Dias, lembramos não apenas da miséria na vila dos Ingleses, transformada num campo de concentração, mas das riquezas advindas das colheitas do algodão. Porque não foi o fracasso mais sim o progresso que sempre ostentou a estrada maior do nosso Município, mostrando a quem por estas terras passassem que Senador Pompeu é símbolo da identidade de um povo que a ergueu de ferro, concreto e sonhos suas avenidas.
NADJANARA LANDIM

Comentários

Anônimo disse…
Valdecy,
Esta tem sido mais uma das gdes contribuições que vc tem dado a esse Municipio. Como filho dessa terra, sei que tens a preocupação de divulgar a história e cultura desse povo, tão criativo.
Muito rico o seu blog! Precisamos realmente desse conhecimento que tens nos proporcionado. Obg mais uma vez pela oportunidade!!
Nadjanara Landim
Unknown disse…
PARABENIZO O SR. VALDECY ALVES PELA GRANDE INICIATIVA E TAMBÉM A VENCEDORA DO CONCURSO A SRTª NADJANARA LANDIM PELA BELA BIOGRAFIA.SENADOR POMPEU DEVE SE ORGULHAR COM TODA CERTEZA DESSES CIDADÃOS E PELA GRANDE CONTRIBUIÇÃO QUE ESTÃO DANDO AO SEU POVO E ANTES DE TUDO À SUA HISTÓRIA.PARABENS!
Márcia Landim
Anônimo disse…
bom adorei seu blog,muito legal,sempre visitarei seu blog fique sempre colocando as novidades..
ass: evelyn
Anônimo disse…
Valdecy,
Parabéns pela iniciativa. Adoro história, sobretudo a do Ceará. Fico triste com o descaso, que, em geral nossos governantes e, por consequencia a população têem para com a nossa história. Só quero fazer uma observação: Nogueira Accioly foi genrro do Senador Pompeu e não sogro como você diz no texto.

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