OS DESAFIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO PISO NACIONAL - DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO

Servidores de Ubajara (CE) em greve há mais de 20 dias - pelo piso - março/2009

Manifestação pelo Piso em Ipaumirim (CE) - Março/2009


§ 1o O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais.

(§ 1º, do artigo 2º, da Lei nº 11738/2008 – Que criou o piso nacional do magistério)

Para nós advogados, para os sindicatos e para todos os profissionais da educação de todo o Brasil, o piso ainda não foi devidamente implementado. Há mais dúvidas que certezas, muita resistência política em valorizar o trabalhador da educação, respeitar o professor, de investir qualidade na educação. Na verdade o piso já uma realidade formal, UMA CONQUISTA HISTÓRICA DOS PROFESSORES, um grande avanço, falta efetivá-lo, eis o desafio que se adianta.

Dentro das dificuldades de implementar o piso podem ser citadas algumas, com as quais nos deparamos com a nossa militância jurídica, seja como advogado da FETAMCE, seja como assessor de vários SINDICATOS MUNICIPAIS do Ceará, seja como assessor do SINDIUTE, seja através de mensagens via e-mail de servidores do restante do Brasil, seja por leituras de blog de professores ou de sindicatos. Por ser o piso nacional, a resistência à sua implementação também é nacionalizada e semelhante em todo o Brasil, de Norte a Sul, de Leste e a Oeste. Há alguns pontos basilares que precisam ser enfrentados na luta pela implementação do piso, eis alguns:

1) Saber exatamente como estão sendo gastos os 60% do FUNDEB, pois a desculpa dos gestores é que não tem dinheiro para pagar o piso conforme a lei. SE NÃO TEM DINHEIRO, POR QUE NÃO TEM DINHEIRO? Necessário saber. Então ter em mãos o total dos recursos repassados do FUNDEB juntamente com a relação com o nome de todos os profissionais que recebem dos 60%, remuneração de cada um e onde estão lotados, é fundamental. NÃO É INTELIGENTE NEGOCIAR PRESUMINDO QUE A APLICAÇÃO DOS 60% DO FUNDEB ESTÁ CORRETA, percentual mínimo que eles transformaram em percentual máximo. Pois regra geral, há mais de 15 tipos de fraudes que os municípios têm praticado. Ainda mais que os conselhos do FUNDEB não funcionam, as câmaras municipais nada fiscalizam e pouco tem feito o Ministério Público em relação à transparência na aplicação das verbas do FUNDEB, tanto o estadual como o federal;
2) Importante avaliar se pagando o piso, que as prefeituras e Estados entendem que devem pagar, quantos por cento realmente estão sendo gastos do FUNDEB com tal piso, que tende sempre a ser ilegal e o pior possível;
3) Necessário entender que o piso nacional é o mínimo a ser pago no país, mas que pode ser superior. Pode haver variação para mais, nunca para valor abaixo do piso nacionalmente unificado. Unificado é o valor mínimo, não o valor máximo;
4) A definição de qual é o piso verdadeiro acabará sendo fruto da luta política ou do Poder Judiciário, que os sindicatos como atores sociais imponham a correta interpretação através da luta política, sejam os protagonistas. Só se sabe que o piso inicial foi de R$ 950,00, de lá pra cá o debate deslocou-se para como deve ser o seu reajuste e o seu atual valor. NA VERDADE A LUTA AGORA É PARA FIXAR NÃO SÓ O PISO PARA 2010, COMO PARA CRIAR UM PADRÃO DE CORREÇÃO PERMANENTE. A questão é antes de tudo política, da democratização do acesso à educação de qualidade, num país onde nunca se valorizou a educação e há tempos atrás, ser professor era algo só para mulher e as filhinhas dos aristocratas do Brasil colonial. Tais professoras sequer precisavam de salário, tinham estudado nos internatos mais caros do Brasil, com seus irmãos ricos sempre se formando na Europa e voltando mais franceses que brasileiros. Ser educador era hobby e não havia política educacional no país. Basta ver que os líderes da Inconfidência Mineira eram todos estudantes em Portugal, riquíssimos, a exemplo do poeta maranhense Gonçalves Dias. Mesmo os que estudaram no Brasil e concluíram faculdade como Castro Alves, José de Alencar, Clóvis Bevilacqua e tantos outros, sempre estudaram em tradicionais escolas religiosas, antigos internatos com educação integral, negada à quase totalidade dos brasileiros. A IMPLEMENTAÇÃO DO PISO E SUA MANUTENÇÃO SÃO PARTES DE UMA LUTA PELA PLENA EFETIVAÇAO DA CIDADANIA, QUE NÃO SE MATERIALIZA SEM EDUCAÇÃO COM QUALIDADE PARA TODOS, que só é viável com a valorização dos profissionais da educação, pagando-se um piso, que no mínimo motive os melhores e mais inteligentes se interessarem e, um dia, orgulharem-se de fazer parte do quadro do Magistério, como qualquer um se orgulharia de ser médico, pois tem a certeza que, no mínimo, terá um salário digno. PASSA PELO PISO A MUDANÇA DE PADRÃO DA POLÍTICA EDUCACIONAL DO BRASIL E A EFETIVAÇÃO DE UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL, QUE É O DIREITO À EDUCAÇÃO DE QUALIDADE!
5) Importante saber que a ADIN 4167/2008 só tem repercussão em 03 pontos na lei do piso: I- DECLAROU QUE ATÉ JULGAMENTO DO MÉRITO O PISO SERIA A REMUNERAÇÃO DO SERVIDOR; II- SUSPENDEU O 1/3 DE ATIVIDADE EXTRACLASSE, mas o Município tem autonomia apra legislar sobre a questão; III- A VIGÊNCIA DO PISO A PARTIR DE JANEIRO DE 2009 PARA EVITAR PASSIVO TRABALHISTA EM RELAÇÃO AO ANO DE 2008;
6) Uma coisa é o piso, outro é a carreira, devendo o piso ser o valor mínimo de qualquer plano de carreira, restando pendentes a quantidade de classes, a diferença de percentual entre as classes, no mínimo 03 classes: NÍVEL MÉDIO - GRADUADOS E ESPECIALISTAS, bem como a diferença entre percentuais entre as referências da mesma classe. A MANUTENÇÃO DO PISO E SUA IMPLEMENTAÇÃO ESTÃO INTIMAMENTE LIGADO À CARREIRA;
7) A JORNADA DE TRABALHO é outro grande desafio. Jornada com a reserva para atividades extraclasse:
Estudo, avaliação e planejamento. De forma que estudar aperfeiçoando-se, avaliar provas e planejar aulas seja dentro da jornada normal de trabalho. Não é lazer, não é ócio, não é descanso. Tal direito contido no artigo 67, inciso V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

Há outros pontos fundamentais. Mas os destacados acima são os que julgo mais importantes. Em 04/03/2010 participei de um encontro em Brasília, realizado pela CNTE, onde foi debatida a padronização das estratégias de luta. Fui como advogado do SINDIUTE. Uma experiência fascinante onde restou claro que os governantes estão unidos no sentido de sabotarem a implementação do piso e a educação de qualidade, salvo raras exceções, que com certeza gerará uma nova geração de eleitores, que tendem a eleger políticos com outra cultura. EM CURSO UMA RUPTURA CULTURAL QUANTO À EDUCAÇÃO NO BRASIL COMO SERVIÇO PÚBLICO. Porém restou claro que falta uma estratégia nacional de luta tanto do movimento sindical, como de suas assessorias jurídicas. De parabéns a CNTE. Mas creio que a CUT deveria fazer um encontro nacional sobre o tema, juntamente com as demais centrais sindicais. No Ceará, os prefeitos estão unidos de tal forma, que a associação deles, APRECE, baixou quase que uma resolução fixando um piso, a exemplo da AGU e de tantos outros falsos legisladores, que combatem a educação de qualidade como o diabo combate a cruz. Enviando tal documento para cada Município, fixando de forma absurda o piso em R$ 1.024,00. A Federaçao dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará (FETAMCE) já abriu junto ao Ministério Público uma representação contra a Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceará (APRECE).

O momento é de luta, consciência, restando claro com absoluta certeza que o movimento sindical é, deve e será o protagonista da mudança de como deve ser prestada a educação para plena cidadania, libertado-nos da velha política educacional, que remonta ao Brasil colonial. NÃO SOMOS MAIS UMA COLÔNIA! Mas os que sempre estiveram no poder e continuam no poder, tratam-nos como colonos e educação para eles é só alfabetizar. Inimiga deles uma política educacional séria, libertadora, que não passará de utopia sem a profissionalização e valorização dos professores. EIS O QUE ESTÁ EM PAUTA!

Comentários

Célia Pereira disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Esse posicionamento da APRECE é tão óbvio que não causa espanto.

Em um país dito democrático, onde textualmente a CF assegura que todo poder emana do povo, era para causar espanto um prefeito se posicionar contra o piso nanacional pago aos professores.

Em se tratando de Brasil, porém, tal comportamento é mais um que entra para o rico acervo da 'falta de vergonha' em nosso país.

> Informação à parte: Soube que teve um prefeito de um dos municípios do Sertão Central que reuniu os professores para lhes anunciar que o abono não será pago (nem mesmo a segunda parcela de 2009). Os pormenores não sei.

Que estranho!

Mas voltando à discussão: há alguns anos assisti na TV a uma reportagem onde constava que a cada R$ 1,00 arrecadado pela Receita Federal, R$ 1,00 é sonegado.

As conversas de esquina dão conta de que os políticos saqueiam os cofres públicos mais do que os sonegadores da Receita Federal e nada lhes acontece em represária.

Isso é estranho ao povão. Opa, não é estranho, afinal é o povão que está nas esquinas. O mesmo povão de onde parte todo o poder garantido na CF.

Que estranho!
a escola não faliu.
como falir o que nunca existiu...
ja foi melhor quando havia família, não havia TV
Luciene Izidro disse…
Embora reconheça a desvalorização histórica do magistério ,devo lembrar que infelizmente, muitos colegas se apegam a essa desvalorização e acabam transformarmando a escola numa fábrica de produtos de má qualidade.Sou defensora fervorosa da educação de qualidade em todas as esferas e modalidades de ensino. Contudo, devo admitir também, que isso só será possivel quando a EDUCAÇÃO nesse país for tratada como política prioritária do Estado e não de governos.Tenho esperança que esse dia há de chegar.
Damasio disse…
Valdecy, neste momento, passamos por um período de lutas pela implantação do Piso Salarial do Magistério em nossa região, no brejo paraibano, onde os gestores não implaram o piso salarial e só querem usar a proporcionalidade, para pagar valor menor que o piso, mas estamos na luta e acreditamos na vitória.
Valdecy, segundo o gestor e o PCCRS da categoria é para 30 horas, no entanto, ele mandou um projeto para Câmara de Vereadores o qual contém um artigo que lhe dar o direito de aumentar a carga-horária para 40 horas dependendo do que ele achar necessário, até agora impedimos a votação do projeto e o gestor disse que iria com os veradores tirar de pauta. Agora, a desconfiança é grande porque fizemos umas paradas de advertência para implantaçao o piso salarial e em reunião foi acertado informalmente que não teríamos nossos salários descontandos já que aulas serião repostas, porém quando rebemos nossos vencimentos verificamos que foram descontados os dias e com caso de valores acima dos dias de paralização.
Anônimo disse…
Valdecy, fico grato por suas informações. Muito obrigado!!!!!
Damasio

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