CAMINHADA DA SECA – A FÉ DE UM POVO QUE CRÊ NA SANTIDADE DAS VÍTIMAS DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DA SECA DE 32 – 28ª CAMINHADA – SENADOR POMPEU - CEARÁ - PEÇA DE TEATRO: CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE 32
Caminhada da Seca de 2009 - Romeiros em Fé - Foto: Mara Paula |
No próximo domingo, dia 14/11/2010, como em todo segundo domingo do mês de novembro de cada ano, às 04:30h da manhã, começarão a tocar os sinos da Igreja Matriz de Senador Pompeu (CE), começarão a ser cantados os hinos e a multidão se converterá numa procissão em direção ao Cemitério da Barragem do Patu, a 03 km da Igreja. A Caminhada da Seca completa 28 anos. A primeira liderada por Padre Albino Donat, a 28ª Caminhada, do ano de 2010, liderada por Padre Carlos Roberto. É um momento de fé, de memória, de emoção.
O nome Caminhada da Seca se deve ao fato que ocorreu em 1932, uma das mais terríveis secas da história do Nordeste. A exemplo da Seca de 1915, eternizada por Raquel de Queiroz, em o Quinze, cuja história tem início em Quixadá, onde está um dos primeiros açudes do Nordeste, para combater a Seca, o Açude do Cedro. Também a exemplo da Seca de 1877, cuja desgraça dos sertanejos foi denunciada por
Rodolfo Teófilo, em seu livro: A Fome.
Caminhada da Seca de 2009 - Na Serra do Patu - Foto: Mara Paula |
Primeiro é importante destacar que a rede ferroviária, que cruzava o Ceará inteiro, de Fortaleza ao Crato, outro ramal de Fortaleza a Crateús, era por onde se enviavam para o interior mercadorias e mais mercadorias, o que nos tempos atuais, efetiva-se através das estradas. Ao mesmo tempo, toda a riqueza do interior, o algodão, era trazida para os portos de Fortaleza, por trem.
Senador Pompeu tinha posição privilegiada no sertão Central. Importante centro comercial, do qual, inúmeras cidades, num raio de mais de 100 km, dependiam. Depois Senador Pompeu tinha toda a estrutura criada para construção do Açude do Patu, em 1919, inacabado, inicialmente projetado para armazenar 200 milhões de metros cúbicos de água, quase 03 vezes a capacidade atual. A estrutura era composta por vários casarões, casas de taipas, armazéns e o mais estratégico: o trem conseguia chegar até lá, ficando fora da cidade. Sendo fácil tanto transportar flagelados como provisões. Por fim, lá houve a maior quantidade de mortos, por cólera, sendo enterrados às centenas, em cemitério improvisado, em valas comuns. Morreram mais de 1.000 pessoas. Tamanho foi o drama, a dor e o sofrimento, que as almas foram santificadas pelo imaginário popular:
O cemitero é retângulo
Ao pé da Serra Patu
Frente a usina triângulo
Jardim do mandacaru
Cercado dum alvo muro
Todo fincado de cruz
A invadir o futuro
Onde possa existir luz !
Sempre tem velas acesa
Gente pagano promessa
O altar bem simples mesa
Onde a fé logo se acessa
Cego lá voltou a ver
Mudo aprendeu a falar
Morto voltou a viver
Toda a graça a se alcançar
Pra lá vai a procissão
Pessoas do povo, fiéis
Pés ao milhares no chão
Turistas e menestréis
Cantano salmos e hinos
Da época de trinta e dois
Velhas, homens e meninos
Sob o forte sol algoz...
Além de todos lamentos
No local se vê té luz
Gritos vindos com os ventos
Até já viram Jesus
Muita gente alcançou graça
No cemitero tão triste
Mortos sem nome e da raça
Do tal do home que existe...
( Cordel: A Besta Fera de 32
De Valdecy Alves)
Caminhada da Seca de 2009 - Na Estrada do Patu - Foto: Mara Paula |
Caminhada da Seca de 2009 - Rua da Lagoa - Foto: Mara Paula |
Todos os fatos narrados, de onde nasce toda memória, que deu origem à Caminhada da Seca. Por isso não deixe de comparecer e avisar aos seus contatos para que também compareçam. E toda essa história de vidas, de sofrimentos, de fé... QUE A CAMINHADA DA SECA REPRESENTA.
O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE 32 - PEÇA TEATRAL NARRANDO A TRAGÉDIA OCORRIDA EM SENADOR POMPEU - ESTREIA 13/11/2010
No próximo dia 12/11/2010, sexta-feira e dia 13/11/2010, sábado, será encenada a peça: CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE 32. No dia 12, no Km 20 e no dia 13/11, sábado, após a missa, em Senador Pompeu, no Salão Paroquial. A peça tem como autor do texto: Valdecy Alves, como diretor: Fram Paulo e como atores membros da Cia. Engenheiros da Arte e do Grupo Arautos do Bonfim.
É a arte resgatando a história, contando em forma de epopéia um fato relevante da história do Brasil, mantendo viva a memória de uma das maiores tragédias ocorridas nas secas do Nordeste, para entender cada vez mais o presente e obter meios de tecer as estruturas do futuro. Experiências semelhantes: A Paixão de Cristo em Pacatuba (CE), a montagem da Peça sobre a Vida de São Francisco, nas romarias de Canindé (CE), a encenação da batalha entre os cabras de Lampião e o povo de Mossoró, que culminou na expulsão dos cangaceiros, em Mossoró (RN). Tornando mais vivo o teatro, fazendo da cultura forma de inclusão social, mantendo o belo, dando acesso ao grande público a baixo custo. Para se ter uma idéia o ingresso custa apenas R$ 2,00 (dois reais).
Foto de Washington Alves - Diretor Fram Paulo instruindo atores
Eis um fragmento da Peça, rezado por um dos personagens, que é muito aplaudido:
Pai Nosso dos Flagelados
Pai e mãe nossos
Que estão no céu
Santificados todos os sonhos
Santificadas todas as profecias
Santificada toda utopia
De inclusão e de liberdade!
O pão nosso de cada dia
Que nos foi furtado
Seja feita a vontade de Jesus
Assim na Europa como no Nordeste
Perdoem-nos quando nos deixamos enganar
Perdoem aqueles que nos enganaram
Mas que a justiça puna-os
Mesmo tarda! Mesmo falha!
Não nos deixem
Cair em tentação
De não construirmos nossa Consciência
De não Edificarmos o nosso destino
De nos omitirmos à luta
O que é o maior mal
Amém!
Foto de Washington Alves - Atriz Karla Samara - A Beata - Ensaia |
Num dos movimentos da Peça, há um encontro entre Nossa Senhora, Padre Cícero e Lampião há a seguinte fala de Nossa Senhora, em meio aos concentrados, que num surto messiânico têm uma visão:
NOSSA SENHORA – Sei que não foi por mal, meu filho! Desrespeito não foi a intenção. Quem canta é Patativa, o poeta popular, o Homero cearense, o Camões dos sertões, que canta as agruras da Seca do 32. A voz do povo nordestino, do povo de Deus! Todo o oceano de pecado da humanidade, afunila-se por este lugar sagrado, toda história humana atravessa no sopé da Serra do Patu, na direção do céu, todos e todas purificados. Aqui se encontra um portal do paraíso. Abaixo da Serra do Patu dorme a esperança de toda a humanidade. Um dia a Serra se abrirá, em forma de botão de rosa, e pétalas do paraíso se espalharão por toda a Terra, que será um só jardim de paz, fartura, perfume e flores, amém! Escutem minha Beata! .( Retiram-se lentamente – ao longe a voz de Patativa cantando a Triste Partida)
Comentários
amigo
que textos e fotos interrogativos.
nosso povo nossa gente
nossa fome ou esperança]
em marcha na procissão
com fé e pé na estrada,
bjsssssssssssss
amigo
prazerrrrrrrrrr estar aqui