ATIVISTAS DE FORTALEZA LANÇAM CAMPANHA PELO TOMBAMENTO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO OTÁVIO BONFIM E PELA CRIAÇÃO DO MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DA HISTÓRIA DAS SECAS DO CEARÁ
Ativistas aprovam os primeiros encaminhamentos pelo tombamento e pela criação do memorial Fotos; Mara Paula - Valdecy Alves |
ATIVISTAS SE REÚNEM NA ESTAÇÃO OTÁVIO BONFIM EM FORTALEZA - ENTRADA PARA OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DAS GRANDES SECAS DO CEARÁ - E APROVAM LUTA EM DEFESA DO SEU TOMBAMENTO E TRANSFORMAÇÃO EM MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DAS SECAS DO CEARÁ: Membros do bairro Otávio Bonfim, estudantes, universitários, ativistas, blogueiros, líderes comunitários, alguns poetas e amantes da cultura de Fortaleza - CEará... se reuniram na tarde de 12/09/2015 na Estação do Otávio Bonfim em Fortaleza e aprovaram lutar pelo tombamento da Estação e criação no local do MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DOS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO DAS SECAS DO CEARÁ. Além de ter sido o portal de entrada dos flagelados para o Campo de Concentração do Alagadiço, nas secas de 1877/1879 - 1915 e 1932 - o local foi um campo de concentração citado no romance ' O Quinze" de Raquel de Queiroz como CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO OTÁVIO BONFIM, para onde se dirigiram os personagens da grande escritora. Lugar de importante significado histórico para Fortaleza, para o Ceará e para o Brasil.
A EXPERIÊNCIA DE PARANGABA FOI DEMONSTRADA COMO É IMPORTANTE A MOBILIZAÇÃO POPULAR: A experiência vivida pela comunidade de Parangaba, que se mobilizou há algum tempo para impedir a demolição da estação ferroviária e foi vitoriosa, obtendo o tombamento do importante local histórico, foi narrada por um dos principais ativistas da luta, O PROFESSOR PAULO, que deixou clara a importância da consciência e da participação da comunidade para preservação do patrimônio histórico.
Os debates tiveram grande participação antes da votação Aprovando por unanimidade dos encaminhamentos |
CONHECER UM POUCO DE HISTÓRIA PARA ENTENDER A RAZÃO DA LUTA É FUNDAMENTAL: I - A
Estação do Bonfim–Antiga Estação do Matadouro–foi palco dos mais sérios dramas
na história das grandes secas do Ceará, sobretudo as secas de 1877/1879– Seca
do 15 e Seca de 32 – Portal de entrada do Campo de Concentração do Matadouro –
Campo de Concentração do Alagadiço e Campo de Concentração do Urubu;
II-
Campos
de Concentração foram currais de pessoas, os flagelados da seca, que não tinham como sobreviver, vinham para Fortaleza atrás de amparo, alimentos e para pedir
ajuda ao Governo. O antigo matadouro de Fortaleza se localizava ao lado da
Igreja. A Estação foi construída com o nome de Estação do Matadouro, depois
chamada de Otávio Bonfim, que hoje está abandonada, aos escombros, depredada e
servindo de local para marginais e drogas, gerando insegurança para todo o
bairro.
III-
Os
flagelados das secas vindos do interior do Ceará, quando chegavam ao Otávio
Bonfim, eram selecionados. Os sadios separados para serem enviados para
trabalhar como soldados da borracha na Região Norte ou como mão-de-obra para
Região Sudeste do Brasil. Os subnutridos eram encaminhados para as
concentrações. O gado era levado para o matadouro. Os molambudos para os
currais da fome.
IV-
Os
Campos de Concentração do Alagadiço, Otávio Bonfim e Urubu são estudados por
especialistas de todo o Brasil e do mundo inteiro. Os Bairros de Fortaleza
Parangaba, Jacarecanga, Pirambu, além de tantos outros, surgiram a partir da
fixação de flagelados em Fortaleza;
V-
A
Estação do Otávio Bonfim é a primeira a partir da Estação João Felipe no
sentido Sul do Ceará. Representa o começo do primeiro capítulo da história da
rede ferroviária do Ceará, que foi fundamental para integração econômica,
social, geográfica e política do Estado. Preservar a estação Otávio Bonfim,
além do memorial às vítimas dos campos de concentração no Ceará, será resgatar
a história da rede Ferroviária, antiga EFB, depois RVC, RFFSA... memória que
precisa ser preservada... Até porque a maior parte da ferrovia foi construída
pelos flagelados... explorados e escravizados em troca de comida...
VI-
Tentam
enterrar o passado por omissão e por descompromisso, a nossa história, a
história do nosso povo, a história das secas, a história de como o Estado
brasileiro exterminou por incompetência e violação a direitos humanos, milhares
e milhares de flagelados, violando a dignidade humana e o mínimo existencial
com as políticas de campos de concentração não pode ser apagada;
VII-
Os
Campos de Concentração do Ceará, que antecederam os campos de concentração de
Hitler, na Alemanha, são citados em clássicos da literatura brasileira, como “A
Fome” - de Rodolfo Teófilo – e o Quinze – de Raquel de Queiroz. O Campo de
Concentração do Otávio Bonfim é citado no livro de Raquel de Queiroz;
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